Leguminosas Forrageiras e o Pastejo Consorciado para Uso na Alimentação Animal

Estudos sobre o uso das principais leguminosas - Série: Leguminosas Forrageiras Texto técnico /Revisão de literatura (nº2) Autor: Délcio Rocha

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Doutor Zoo

1/8/2023

Leguminosas Forrageiras e o Pastejo Consorciado para Uso na Alimentação Animal

Estudos sobre o uso das principais leguminosas forrageiras 

Série: Leguminosas Forrageiras

Texto técnico /Revisão de literatura (nº2)

Autor: Délcio Rocha

Introdução

O pastejo consorciado com leguminosas envolve o cultivo conjunto de diferentes espécies vegetais, particularmente gramíneas e leguminosas, visando otimizar o manejo forrageiro. A base dessa prática é combinar a robustez e a produtividade das gramíneas com o alto valor nutritivo e a capacidade de fixação de nitrogênio das leguminosas, resultando em inúmeros benefícios agronômicos e ambientais.

Historicamente, o pastejo consorciado tem raízes profundas em várias culturas agrárias ao redor do mundo. Desde antigas civilizações, agricultores perceberam que cultivar leguminosas junto com gramíneas não apenas melhorava a fertilidade do solo, mas também promovia uma alimentação mais equilibrada para os animais. As leguminosas, através de sua capacidade de fixar o nitrogênio do ar no solo, reduzem a necessidade de fertilizantes químicos, contribuindo para uma agricultura mais sustentável.

Nos dias de hoje, a relevância do pastejo consorciado é ainda mais evidente no contexto da agricultura sustentável. O manejo adequado do pastejo consorciado promove a biodiversidade, melhora a estrutura do solo e ajuda a mitigar os efeitos da mudança climática. Ao reduzir a dependência de produtos químicos e aumentar a eficiência do uso dos recursos naturais, o pastejo consorciado com leguminosas impulsiona a produtividade das pastagens de maneira ecológica e econômica.

Ademais, a integração de leguminosas nas pastagens auxilia na manutenção da saúde do solo, pois a decomposição das suas raízes e resíduos vegetais enriquece o perfil de nutrientes. Isto é crucial para manter a capacidade produtiva das terras e garantir a sustentabilidade ao longo do tempo. Em suma, o pastejo consorciado com leguminosas é uma prática que resgata métodos tradicionais e os combina com os avanços modernos, proporcionando um caminho promissor para a agricultura sustentável.

Melhoria da Produtividade Animal

O pastejo consorciado com leguminosas revela-se uma prática agronômica valiosa para a melhoria da produtividade animal. Leguminosas, como a alfafa e o trevo, são altamente benéficas por sua composição rica em proteínas, essencial para o crescimento e desenvolvimento dos animais. A combinação dessas plantas com gramíneas, como o capim-elefante e a braquiária, resulta em uma forragem de maior qualidade, proporcionando uma dieta mais equilibrada.

Essa prática não apenas melhora os níveis de proteína na dieta dos animais, mas também aumenta a palatabilidade da forragem. Assim, os animais consomem maior volume de alimentos, o que se traduz em melhores ganhos de peso e maior produtividade leiteira. Além de proteínas, leguminosas aumentam a disponibilidade de minerais e vitaminas, essenciais para a saúde geral do rebanho.

Estudos de caso corroboram esses benefícios. Em um estudo realizado no Brasil, o pastejo consorciado de braquiária com estilosantes mostrou um aumento de 20% no ganho de peso diário dos bovinos em comparação ao pastejo exclusivo de braquiária. Outro exemplo é a melhoria notável na condição corporal de caprinos em pastagens que combinam gramíneas com a leguminosa leucena.

Além dos ganhos em termos de produtividade, o pastejo consorciado pode melhorar a saúde animal de outras formas. A presença de leguminosas na dieta tem sido associada à redução de problemas metabólicos e ao aumento da eficiência digestiva. Isso não apenas resulta em um melhor aproveitamento dos nutrientes, mas também em um sistema imunológico mais forte, o que reduz a incidência de doenças.

Em resumo, a prática do pastejo consorciado com leguminosas apresenta-se como uma estratégia eficiente para maximizar a produtividade animal. Melhorando a qualidade e a quantidade da forragem disponível, os produtores não apenas otimizam os ganhos de peso e a produção de leite, mas também promovem a saúde e o bem-estar geral do rebanho.

Redução da Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE)

O pastejo consorciado com leguminosas apresenta-se como uma estratégia eficaz para a redução da emissão de gases de efeito estufa (GEE). Um dos mecanismos chave deste processo é a fixação biológica de nitrogênio (FBN), realizada pelas leguminosas. A FBN permite que esses vegetais transformem o nitrogênio atmosférico em formas utilizáveis pelo solo e pelas plantas, diminuindo a necessidade de fertilizantes nitrogenados sintéticos. Isso é significativo, pois a produção e aplicação de fertilizantes sintéticos são fontes consideráveis de GEE, especialmente de óxido nitroso (N₂O), um gás com efeito estufa cerca de 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO₂).

Além disso, estudos têm mostrado que o pastejo consorciado com leguminosas pode resultar na redução de emissões de metano (CH₄), um dos principais gases de efeito estufa emitidos pela pecuária. O metano é produzido principalmente durante o processo de digestão dos ruminantes e é expelido na forma de arrotos. No entanto, a incorporação de leguminosas na dieta animal pode alterar esse processo digestivo de forma a reduzir a quantidade de metano produzida. Isso ocorre em parte devido à maior qualidade nutricional das leguminosas, que pode aumentar a eficiência alimentar e diminuir a produção de metano por unidade de alimento consumido.

Pesquisas realizadas em campos experimentais demostraram que pastagens consorciadas com leguminosas podem reduzir a emissão de metano em até 20% em comparação com pastagens baseadas exclusivamente em gramíneas. Outro dado relevante é que, além de reduzir as emissões de GEE, o pastejo consorciado contribui para a melhora da saúde do solo. A presença das leguminosas aumenta a biodiversidade e promove a ciclagem de nutrientes, ferramentas cruciais para a implementação de práticas agrícolas sustentáveis.

Portanto, a adoção do pastejo consorciado com leguminosas não só se mostra benéfica para a redução de emissões de gases de efeito estufa, mas também proporciona uma série de outros benefícios agronômicos e ecológicos, tornando-se uma prática valiosa para agricultores e pecuaristas comprometidos com a sustentabilidade.

Aumento da Qualidade e Produção de Forragem

O pastejo consorciado com leguminosas apresenta uma série de vantagens compatíveis com o aumento da qualidade e produção de forragem. Um dos principais benefícios da plantação diversificada é a melhoria na cobertura do solo. A presença de leguminosas, além de gramíneas, contribui para uma cobertura mais densa e sustentável, o que evita a erosão do solo e favorece ao microclima mais adequado para o crescimento das plantas.

Outro fator crucial é a melhoria na retenção de água. As leguminosas possuem raízes que penetram mais profundamente no solo, criando canais que permitem maior infiltração de água. Esta característica é essencial, especialmente em regiões sujeitas a secas ou com distribuição irregular de chuvas.

Além disso, a diversificação das plantas leva a um incremento no aporte de nutrientes ao solo. As leguminosas têm a capacidade de fixar nitrogênio atmosférico, através de simbiose com organismos específicos presentes em suas raízes. Este nitrogênio, posteriormente, é liberado no solo e é aproveitado pelas gramíneas e outras plantas do consórcio. Como resultado, obtém-se um aumento na disponibilidade de nutrientes, o que se reflete em uma forragem de melhor qualidade nutricional.

Estudos demonstram que sistemas consorciados propiciam um crescimento mais robusto e saudável das plantas. Há relatos de incremento na produção de matéria seca – parâmetro utilizado para avaliar a quantidade efetiva de forragem disponível para o pastejo. Em média, a produção de matéria seca pode aumentar de 20% a 30% em pastagens consorciadas com leguminosas, comparadas com pastagens monoculturas.

Os teores de nutrientes essenciais, como proteínas e minerais, também são maiores em forragens oriundas de sistemas consorciados. Esta característica é fundamental para a nutrição adequada dos animais, resultando em melhor desempenho produtivo, seja para carne, leite ou outros produtos agropecuários.

Substituição de Insumos Fertilizantes Nitrogenados

O uso de leguminosas em sistemas de pastejo consorciado se destaca pela capacidade dessas plantas de realizar a fixação biológica do nitrogênio. Esse processo ocorre através da simbiose entre as leguminosas e bactérias do gênero Rhizobium, que se associam às raízes das plantas. As bactérias capturam o nitrogênio atmosférico e o transformam em formas acessíveis para as plantas, enriquecendo o solo com este nutriente essencial. Com essa técnica, a necessidade de aplicação de fertilizantes nitrogenados é substancialmente reduzida.

A relevância econômica dessa prática é notável. O custo dos fertilizantes nitrogenados pode representar uma parcela significativa das despesas de produção na agropecuária. Ao reduzir a dependência desses insumos, os produtores podem diminuir consideravelmente seus custos operacionais. Além disso, a fixação biológica do nitrogênio proporciona um fornecimento contínuo deste nutriente ao longo do ciclo de crescimento das plantas, garantindo uma fertilização mais uniforme e eficiente.

Além do impacto econômico, há também uma significativa vantagem ambiental na adoção do pastejo consorciado com leguminosas. A produção e uso de fertilizantes contamina o solo e os corpos d’água, além de ser uma das atividades agrícolas mais emissoras de gases de efeito estufa. A utilização de leguminosas como alternativa sustentável promove a agropecuária regenerativa, contribuindo para a redução da pegada de carbono e a conservação ambiental.

O custo-benefício do pastejo consorciado com leguminosas é altamente favorável, quando comparado à aplicação direta de fertilizantes nitrogenados. O investimento inicial na implementação desse sistema pode ser rapidamente compensado pela redução nos custos com insumos químicos, além dos benefícios de longo prazo relacionados à saúde do solo e à sustentabilidade ambiental. Dessa forma, a integração de leguminosas em sistemas de pastejo se apresenta como uma estratégia viável e vantajosa tanto economicamente quanto ecologicamente.

Implantação e Manejo do Pastejo Consorciado

A implantação do pastejo consorciado com leguminosas requer um planejamento meticuloso para garantir o sucesso. O primeiro passo é a seleção adequada das espécies de leguminosas e gramíneas. As leguminosas escolhidas devem ser compatíveis com as condições climáticas e de solo da área, além de apresentarem boa capacidade de fixação de nitrogênio. É essencial optar por variedades que se complementem, promovendo uma simbiose eficiente.

Com as espécies selecionadas, a preparação da terra é a próxima etapa. Isso inclui a análise e correção do solo, garantindo o pH ideal e a disponibilidade de nutrientes. A aração e gradagem do solo são fundamentais para criar um ambiente propício para o desenvolvimento das sementes. A semeadura é um ponto crítico no processo de implantação; recomenda-se utilizar métodos de plantio direto ou convencional dependendo das características do solo e das espécies escolhidas.

O manejo contínuo do pastejo consorciado envolve práticas que visam manter a saúde do sistema e otimizar a produção. Rotação de pastagem é uma estratégia eficaz para evitar o superpastejo e garantir a regeneração das plantas. Monitoramento constante é crucial para identificar e tratar pragas e doenças rapidamente. O uso adequado de fertilizantes e corretivos pode corrigir deficiências nutricionais, promovendo o crescimento vigoroso das plantas.

Um dos desafios mais comuns no pastejo consorciado é o manejo das espécies invasoras. A integração de práticas de controle mecânico, químico e biológico pode ser necessária para manter as invasoras sob controle. Além disso, a adaptação às mudanças climáticas, como variações de chuvas e temperaturas extremas, demanda ações proativas para manter a resiliência do sistema.

Por fim, um sistema de pastejo consorciado bem implantado e manejado pode trazer inúmeros benefícios, incluindo a melhoria da fertilidade do solo, aumento da produtividade animal e sustentabilidade da atividade agropecuária. Com uma abordagem bem planejada e execução cuidadosa, o pastejo consorciado pode transformar a eficácia e a viabilidade das pastagens, promovendo um desenvolvimento agrícola mais sustentável.

Referências
CARVALHO, I. R.; SOUZA, V. Q.; NARDINO, M.; OLIVEIRA, A. C. Resultados experimentais em plantas forrageiras. Porto Alegre: Cidadela, 2016. (v. 50).
CARVALHO, I. R.; SZARESKI, V. J.; DEMARI, G.; SOUZA, V. Q. Produção e cultivo de espécies forrageiras. Porto Alegre: Cidadela, 2018. (v. 100)

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/4588298/mod_resource/content/1/Leguminosas.pdf

https://elevagro.com/blog/caracterizacao-de-especies-leguminosas-forrageiras-parte-1/

http://www.cnpt.embrapa.br/biblio/li/li01-forrageiras/cap12.pdf

https://www.embrapa.br/busca-de-solucoes-tecnologicas/-/produto-servico/5959/leguminosas-forrageiras-tropicais-caracteristicas-e-recomendacoes-de-uso

https://www.matsuda.com.br/sementes-forrageiras/leguminosas-forrageiras

https://www.educapoint.com.br/v2/blog/pastagens-forragens/por-que-usar-leguminosas-forrageiras-em-pastagens/

https://agriconline.com.br/portal/artigo/importancia-das-leguminosas-forrageiras-no-sistema-de-producao/

Como Citar:

Portal AGROECOBRASIL. ROCHA, Délcio César Cordeiro. Leguminosas Forrageiras, Leguminosas Forrageiras e o Pastejo Consorciado para Uso na Alimentação Animal. Série: Leguminosas Forrageiras nº2. Publicado em 2023 Disponível em: https://agroecobrasil.com/leguminosas-forrageiras-e-o-pastejo-consorciado-para-uso-na-alimentacao-animal. Acesso em DIA/ MÊS/ ANO

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