Criação Comercial de Animais Silvestres no Brasil: Oportunidades e Desafios
Série: Criação, Conservação e Manejo de Fauna/ Agroeconegócios/Desafios Artigo técnico/Conscientização/Ponto de Vista nº11 Autor. Délcio César Cordeiro Rocha Campus do ICA/UFMG em Montes Claros -MG
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Criação Comercial de Animais Silvestres no Brasil: Oportunidades e Desafios
Série: Criação, Conservação e Manejo de Fauna/ Agroeconegócios/Desafios
Artigo técnico/Conscientização/Ponto de Vista nº11
Autor. Délcio César Cordeiro Rocha
Campus do ICA/UFMG em Montes Claros -MG
Introdução
A criação comercial de animais silvestres no Brasil emerge como uma atividade relevante tanto na esfera econômica quanto social. Essa prática envolve a reprodução, manejo e comercialização de espécies nativas, proporcionando diversas oportunidades de desenvolvimento sustentável.
Ao contrário das atividades extrativistas que podem levar à degradação dos habitats naturais, a criação comercial busca uma abordagem mais responsável, promovendo a conservação da biodiversidade. Este conceito nasce da necessidade de equilibrar a exploração econômica e a preservação ambiental, sendo um exemplo de como interlocuções entre esses dois campos podem resultar em benefícios mútuos.
Ao longo dos anos, a criação comercial de animais silvestres tem ganhado destaque, especialmente no contexto econômico brasileiro. O país, rico em biodiversidade, possui um imenso potencial para a criação de diferentes espécies, que são tanto uma fonte de renda para os criadores quanto um atrativo para o mercado nacional e internacional. O desenvolvimento dessa atividade exige, portanto, estratégias que respeitem as normas de conservação e promovam a utilização responsável dos recursos naturais. A gestão adequada e a regulamentação da criação de fauna silvestre são essenciais para que essa atividade se mantenha viável a longo prazo.
Além do potencial econômico, a criação comercial de animais silvestres também contribui para a educação ambiental e a conscientização sobre a importância da preservação das espécies. Essa prática pode servir como um instrumento para a proteção da biodiversidade, uma vez que os criadores têm o incentivo de preservar habitats naturais em vez de destruí-los. Assim, a criação comercial não apenas proporciona uma alternativa econômica, mas também impulsiona a busca por práticas que asseguram a sustentabilidade dos ecossistemas. Com um manejo adequado e responsável, essa atividade pode se consolidar como uma solução viável para questões tanto sociais quanto ambientais enfrentadas no Brasil.
Histórico da Exploração de Animais Silvestres no Brasil
A exploração comercial de animais silvestres no Brasil possui um histórico complexo, que remonta a várias décadas. Entre as práticas mais notórias, destaca-se a extração do jacaré-do-pantanal, que ocorreu em grande escala entre 1956 e 1969. Durante esse período, o Brasil se tornou um dos maiores exportadores de peles, atendendo tanto ao mercado interno quanto à demanda internacional, especialmente da Europa e dos Estados Unidos. A pele do jacaré era altamente valorizada pela sua durabilidade e estética, o que levou a um aumento vertiginoso na coleta desses répteis.
Os dados dessa época revelam que a exportação de peles de jacaré-do-pantanal gerou receitas significativas para o país, injetando capital em diferentes setores econômicos locais. Entretanto, essa exploração desenfreada teve consequências severas para as populações de jacarés e o ecossistema do Pantanal. Com a captura excessiva, a população de jacarés sofreu um considerável declínio, colocando a espécie em risco e levando à necessidade de regulamentação da prática.
Além da diminuição numérica, a exploração comercial trouxe impactos ambientais profundos. A degradação dos habitats naturais e a alteração do equilíbrio ecológico se tornaram preocupações, com a perda de biodiversidade afetando também outras espécies que compartilham o mesmo ecossistema. O aumento da exploração animal, sem a devida conscientização e regulamentação, suscitou a discussão sobre a necessidade de implementar políticas de proteção e conservação. Assim, embora a exploração comercial tenha trazido benefícios econômicos a curto prazo, suas consequências a longo prazo apontam para a urgência de se repensar práticas que impactam a fauna e flora brasileiras, visando a sustentabilidade e a preservação das espécies.
Mercado Atual e Oportunidades de Negócio
O mercado de criação e comercialização de animais silvestres no Brasil tem se expandido significativamente, refletindo tanto uma demanda crescente quanto uma diversidade de espécies que atraem a atenção de empreendedores. Este fenômeno é impulsionado por uma combinação de fatores, incluindo interesse crescente em fauna nativa, turismo ecológico e ações de conservação. O potencial econômico deste setor é considerável, especialmente considerando que a biodiversidade brasileira abriga uma vasta gama de espécies, algumas das quais são altamente valorizadas no mercado nacional e internacional.
Entre as espécies mais procuradas, destacam-se aves como araras e tucanos, bem como mamíferos como lobo-guará e algumas variedades de primatas. Esses animais não apenas são apreciados por suas características estéticas, mas também desempenham um papel vital na educação ambiental e na valorização da fauna brasileira.
Com o aumento da conscientização ecológica, o apelo pelos animais silvestres como pets e elemento de observação se intensifica, criando oportunidades para negócios sustentáveis que possam operar dentro da legalidade e das normas de preservação.
Entretanto, o setor deve enfrentar desafios significativos, como a necessidade de regulamentação rigorosa e práticas de manejo éticas. O desenvolvimento de estratégias de criação que não comprometam a ecologia é essencial. Além disso, a economia do setor é influenciada por mudanças nas políticas ambientais e pelo aumento do ativismo em prol dos direitos animais. Portanto, os empreendedores que buscam explorar o mercado de animais silvestres devem estar atentos às tendências globais e locais, além de se comprometer com práticas que promovam a sustentabilidade e a conservação das espécies.
As perspectivas futuras são promissoras, com um aumento na aceitação de iniciativas que combinem rentabilidade e responsabilidade socioambiental. O fortalecimento de parcerias com organizações de preservação permite não apenas a exploração econômica dos animais, mas também contribui para a defesa das espécies ameaçadas. Assim, o mercado de criação de animais silvestres no Brasil se apresenta como uma arena rica em oportunidades, desde que operada de maneira consciente e sustentável.
Legislação e Normas para Criação Comercial
A criação comercial de animais silvestres no Brasil é uma atividade que demanda atenção às legislações e normas específicas que regem essa prática. O arcabouço legal é constituído principalmente pela Lei de Proteção à Fauna (Lei nº 5.197/1967), que proíbe a captura de animais silvestres sem autorização, além de estabelecer diretrizes sobre a criação e a comercialização das espécies.
Para que a atividade seja considerada legal, os criadores precisam obter licenças emitidas por órgãos competentes, como o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), que é responsável pela supervisão e fiscalização dessa prática em todo o território nacional.
Além da licença de funcionamento, os criadores devem se submeter a uma série de requisitos técnicos, que incluem a comprovação de instalações adequadas e as condições de bem-estar animal. Isso envolve a oferta de alimentação apropriada, espaço suficiente e cuidados veterinários regulares. Outro aspecto importante é a responsabilidade dos criadores em evitar a extinção de espécies e garantir que suas práticas não impactem negativamente o ecossistema local. Para isso, a legislação também estabelece normas relacionadas ao controle de reprodução e a gestão dos animais em cativeiro.
Os criadores devem estar atualizados sobre as mudanças nas Normas Técnicas de Manejo, estabelecidas pelo IBAMA, que orientam sobre as melhores práticas na criação de fauna silvestre. Este conhecimento é crucial para garantir a sustentabilidade da atividade e proteger não apenas a fauna, mas também o meio ambiente. Em decorrência de seu significado socioeconômico, o cumprimento rigoroso dessas legislações é essencial para viabilizar a criação comercial de animais silvestres de maneira ética e responsável.
Desafios e Riscos Envolvidos
A criação comercial de animais silvestres no Brasil apresenta desafios e riscos significativos que devem ser cuidadosamente considerados. Um dos principais desafios é a saúde dos animais. Em ambientes de cativeiro, os animais silvestres estão mais suscetíveis a doenças, que podem se propagar rapidamente entre os espécimes. O manejo inadequado, aliado à falta de conhecimento especializado por parte dos criadores, pode resultar em consequências severas para a saúde dos animais e comprometer a viabilidade do empreendimento. Portanto, a capacitação de profissionais que atuam nesta área é essencial para garantir práticas adequadas de manejo e cuidado.
Outro risco relevante está relacionado à biodiversidade. A comercialização de espécies silvestres pode contribuir para a diminuição de populações nativas, especialmente quando a coleta e reprodução não são realizadas de maneira sustentável. Isso não apenas afeta as espécies em risco de extinção, mas também pode alterar os ecossistemas, levando a um efeito dominó que provoca a perda de biodiversidade. As atividades comerciais devem, portanto, estar alinhadas com as estratégias de conservação, assegurando que a exploração não prejudique o equilíbrio ambiental.
A questão ética também permeia a criação de animais silvestres. Há um crescente debate sobre a moralidade de manter esses animais em condições de cativeiro, onde suas necessidades comportamentais e sociais podem não ser plenamente atendidas. Além disso, a percepção pública em relação à criação desses animais é complexa; enquanto alguns veem como uma oportunidade de desenvolvimento econômico, outros a criticam, defendendo a proteção dos animais em seu habitat natural. Portanto, um diálogo transparente com a sociedade e a implementação de práticas éticas são cruciais para a aceitação e a sustentabilidade desta atividade.
Casos de Sucesso no Brasil
No Brasil, a criação comercial de animais silvestres tem ganhado destaque através de diversos casos de sucesso que combinam sustentabilidade e lucratividade. Esses empreendedores demonstraram que é possível criar e comercializar espécies nativas de maneira responsável, respeitando a legislação ambiental e promovendo a conservação da biodiversidade. Um exemplo notável é o criador de jabutis que, ao implementar práticas de manejo sustentável, conseguiu não apenas preservar a saúde das espécies, mas também atender à demanda crescente por animais de estimação exóticos.
Outro caso relevante é o de uma empresa que se especializou na criação de aves ornamentais. Com um forte compromisso com a preservação de habitats naturais e a educação ambiental, essa empresa desenvolveu um modelo de negócios que inclui visitas guiadas e workshops, onde os visitantes aprendem sobre a importância da conservação. Essa abordagem diversificada gerou receitas adicionais e consolidou a imagem da marca como responsável e comprometida com causas ambientais.
Além disso, existem iniciativas que focam na criação de peixes ornamentais. Um criador localizado no Nordeste do Brasil tem se destacado por sua capacidade de criar espécies nativas em um ambiente sustentável. Este modelo de negócios não só trouxe retorno financeiro, como também promoveu a sensibilização sobre a importância da conservação dos ecossistemas aquáticos. Com a aplicação de técnicas de aquaponia, o criador reduziu o impacto ambiental, mostrando que é viável equilibrar a produção e a conservação.
Esses exemplos de sucesso revelam que a criação comercial de animais silvestres no Brasil pode ser realizada de forma ética e sustentável. Os empreendedores que adotam práticas responsáveis não apenas contribuem para a proteção das espécies, mas também se destacam no mercado, criando oportunidades para novos negócios no setor. Ao observar essas histórias, novos investidores podem se inspirar e seguir caminhos que promovam tanto o crescimento econômico quanto a conservação ambiental.
Futuro da Criação Comercial de Animais Silvestres
O futuro da criação comercial de animais silvestres no Brasil promete ser um cenário repleto de oportunidades, mas também repleto de desafios que exigirão uma visão clara e responsáveis práticas. Nos últimos anos, a crescente conscientização sobre a importância da preservação da biodiversidade e a necessidade de práticas sustentáveis têm chamado a atenção para o potencial que o setor pode alcançar, desde que gerido de maneira ética e responsável. A criação de espécies silvestres de forma correta pode não apenas contribuir para a conservação de diversas espécies como também gerar alternativas de renda para comunidades locais.
Com os avanços tecnológicos e a informação disponível, o setor pode se beneficiar de inovações que melhoram as condições de criação, saúde e reprodução dos animais, ao mesmo tempo que preservam o meio ambiente. As técnicas modernas de biotecnologia, por exemplo, podem possibilitar o desenvolvimento de práticas de manejo mais eficientes, promovendo a produção de espécies silvestres de maneira que reduza a pressão sobre os habitats naturais. Ademais, a implementação de sistemas de rastreamento e certificação garantirá que os produtos derivados da criação sejam obtidos de forma legal e sustentável, transmitindo confiança tanto ao consumidor quanto ao mercado internacional.
Entretanto, a conscientização e a educação ambiental se mostram essenciais para a evolução do setor. Capacitar produtores e a comunidade em geral sobre as práticas de manejo responsável e seus impactos é fundamental para promover uma criação comercial de animais silvestres que equilibre desenvolvimento econômico e sustentabilidade ecológica. Somente através de um esforço conjunto de todas as partes envolvidas — governantes, empreendedores e sociedade civil — será possível garantir que o Brasil continue a ser um líder na criação comercial de animais silvestres, com um compromisso firme com a preservação de sua rica biodiversidade.
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Como Citar:
Portal AGROECOBRASIL. ROCHA, Délcio César Cordeiro. Criação Comercial de Animais Silvestres no Brasil: Oportunidades e Desafios. Disponível em: https://agroecobrasil.com/criacao-comercial-de-animais-silvestres-no-brasil-oportunidades-e-desafios Série: Criação, Conservação e Manejo de Fauna/ Agroeconegócios/Desafios. Artigo técnico/Conscientização/ Ponto de Vista nº11. Publicado em 2022. Acesso: DIA/MES/ANO
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Sobre o coordenador do Site www.agroecobrasil.com:
Délcio César Cordeiro Rocha
Zootecnista - Escola Superior de Ciências Agrárias de Rio Verde- ESUCARV- GO
Especialista em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Centro-oeste UNIOESTE-PR
Mestrado em Agronegócios - Universidade Federal do Rio Grande do Sul. UFRGS-RS
Doutor em Zootecnia - Universidade Federal de Viçosa. UFV-MG
Ministra as Disciplinas:
Agroeconegócios
Conservação e Manejo e de Fauna,
Zoologia,
Etologia e Bem Estar Animal,
Animais Silvestres,
Criação e Exploração de Animais Domésticos,
Extensão Rural,
Educação e Interpretação Ambiental
Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG / Montes Claros. Para os cursos de Agronomia, Eng. Florestal, Eng. Agrícola e Ambiental , Zootecnia
Coordenador do Grupo de Estudos em Etologia e Bem-estar Animal - GEBEA
Coordenador do PROGRAMA de Extensão: “Ambiente em Foco/ "Meio- ambiente e Cidadania" e dos Projetos:
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